segunda-feira, 24 de outubro de 2011

nu ar

quando o vento sopra forte e tudo parece voar
ficamos nu ar.
e só quando a chuva nos escorraça para outro lugar é que finalmente caímos.

mas afinal somos apenas estranhos de passagem?

somos matéria da vida...ou vida da matéria...?
se por acaso algum dia fugir sem querer será para me ver melhor.
para saber que estou intrinsecamente confusa.
por isso, eu digo feliz de quem soube voar espreguiçar-se no vento bem alto.
ou de quem numa desenfreada corrida nas palavras sem fundo deambulou.
porque na margem do que é somos embalados como quando nos sentamos a ver o mar
e no rebentar de uma nova aurora questionamo-nos de pulmões cheios e o que para lá ficou deixa de fazer sentido.

uma espécie de indigestão

quando resta o pó difícil de limpar e as mãos perdem a cor natural estamos em modo de indigestão.
sorte de quem não a tem. 

a cama está suja. é-lhe indiferente.
para ti ou para ela?
não me conformo. repito.
sabes quando e como a sentes. quando e como a ouves.
quando lhe tocas. quando lhe cheiras.
mas não a vês. não tem rosto.
nem forma nem textura.
não tem cor. nem reflexo nem tonalidade.

simplesmente sabes que está lá.
vómito. vómito.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

abrir a palma da mão e senti-la vazia


na rebentação das ondas morri.
o meu corpo foi encontrado na areia da praia.
escureci apodreci endureci.
estava condenada.
nas mãos cordas
nos pés cortes
no rosto sal.
tinha caminhado demasiado sofrido demais
não pude salvar-me.
fui então mergulhada no mar

um céu de nuvens
um mar de ondulação
uma tempestade
uma tristeza
erros e remorsos

se ficar por aqui
que seja
mas amar-te mais
que tenha um fim.

ver alguém desaparecer é como abrir a palma da mão e senti-la vazia. 

 
Music by A banda mais bonita da internet - oração.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

histórias de terror para dormir.

quando somos pequenos contam-nos todas as espectaculares histórias sobre gatos que usam botas e desembainham uma espada, princesas que vivem aprisionadas numa torre gigante e que só podem ser salvas por cavaleiros, o boneco de madeira que só queria ser menino de verdade e que ao mentir lhe crescia o nariz...e depois também nos contam aqueles contos terroríficos dos quais nunca nos esquecemos. o papão é uma delas, que vinha em forma de música. o capuchinho vermelho que é perseguido na floresta e cuja avó é engolida pelo lobo mau. o joão e a maria (Hänsel und Gretel) que perdidos na floresta foram "acolhidos" pela bruxa que tinha uma casinha de chocolate e que seriam a sua próxima refeição... enfim N histórias de Encantar.
hoje enquanto adulta permanecem duas relíquias que são impossíveis de esquecer: a lenda do big foot ou o abominável homem das neves e a música do atirei o pau ao gato. 
quando soube da existência do big foot estava de visita à serra da estrela no inverno. havia neve e fazia todo o sentido aquela história logicamente. claro que ganhei um medo terrível à serra e à a neve. hoje sabendo da verdade vejo que a história é completamente irracional. um homem de pés grandes peludo a andar nu pela neve e que come "animaizinhos" não pode ser mais do que uma loucura inventada por alguém com pouco para fazer. mas se a culpa fosse apenas de quem inventa...
aqui os pais têm certamente um dedo grande de culpa. e leva-me à música do atirei o pau ao gato. letra cruel numa harmoniosa melodia. em criança não entendia muito bem, sabia que se atirava o pau ao gato e ele não morria e ficava por ali. felizmente a letra mudou e nos dias de hoje canta-se algo como: não atirei o pau ao gato porque o gato é nosso amigo. 

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

a neblina do orvalho húmido esfrego nas palmas das mãos e não sinto nada. é um gelo.


pássaros em rebeldia.
tudo são pássaros em rebeldia.
mesmo quando não encontramos justificação possível: são pássaros em rebeldia.
olho para trás e não vejo nada. um grande espaço em branco.
no cantinho tudo o que ficou foi um longo suspiro trémulo.
as paredes tinham aquele sabor de cor violeta amachucada que se prendia no ar ofegante do verão. 

imagino-a na rua...
mas hoje não que está muito vento e os cabelos cobrir-se-lhe-iam pelo rosto e eu não a conseguiria ver.


são instantes firmes. nunca me falharam.
conduzo embriagado na esperança de a ver pedir boleia na berma da estrada.
ainda não a vi.
só vejo luzes vermelhas desfocadas. o branco no centro que não posso transpor e o escuro que me acompanha. mais nada.

a neblina do orvalho húmido esfrego nas palmas das mãos e não sinto nada. é um gelo.

domingo, 16 de outubro de 2011

emboss yourself.

from engraving to carve, from imprinting to molde. 
to shapes, to concepts, to reliabilities.
you can do just about everything with emboss.

when emboss becomes more than an idea, it becomes a meaning in our minds.